Mensagem:
Pastor, Caio: bom dia...
O meu grande dilema desde já é a seguinte questão:
Hoje o crescimento da igreja tem estado na pauta das discussões dos seminários, congressos e na boca e nos assuntos dos pastores, mas na maioria das vezes como “um fim em si mesmo”.
A maioria dos ministério que eu conheço e que são considerados bem-sucedidos, são aqueles que crescem mais.
Mas como lidar com essa questão, pois nem sempre a igreja quando a igreja cresce significa que ela está cumprindo os propósitos do Reino.
Mas o que dizer de uma igreja que passa décadas trabalhando e continua sem crescer?
Qual é o ideal para o trabalho?
Será que uma igreja que permanece durante anos sem crescimento, ou com um crescimento pequeno, será que pode ser considerada uma comunidade sadia?
Pois essa é a minha crise no ministério...
Sei que devemos buscar o crescimento no ministério, mas e quando ele não acontece?
Como entender ?
A onda na igreja evangélica hoje são os modelos de crescimento de igreja, como: Rede Ministerial, Igreja com Propósitos, Igreja em Células, entre outros...
E muitas igrejas que adotaram algum desses modelos, cresceram.
Na sua opinião, é o ideal que toda a igreja tenha uma declaração de visão, missão e propósitos?
Utilizar alguns elementos de administração na igreja é prejudicial ou benéfico?
Pois, Pastor Caio, existe essa tensão no ministério, e como seminarista tenho visto que existe crise nas vidas dos futuros ministros.
A grande maioria quer ter uma experiência em uma igreja grande, e quando não aparecem oportunidades de serviço, existe muita frustração entre os seminaristas.
È errado alguém que é de uma comunidade pequena conhecer a estrutura e trabalhar em uma comunidade grande e desejar isso?
E quem vem de uma comunidade grande, não é uma boa experiência conhecer o ministério de uma pequena igreja?
Gostaria de ouvi-lo a respeito.
Um abração
Ricardo
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Resposta:
Meu querido Ricardo,
Que bom que a Palavra é viva e eficaz.
O assunto da mensagem e dos métodos se entrelaçam.
Veja:
1. Daqui a cem anos, se meu português ainda for compreendido pelos brasileiros vivos, a Palavra estará realizando o mesmo efeito. Mas os métodos atuais estarão todos sepultados.
2. A Palavra permanece. Os métodos se desgastam.
3. A Palavra e o Método, em Cristo, devem ser uma coisa só: “Assim como Pai me enviou, assim também eu vos envio”. Encarnação da Palavra é o Meio.
4. Quando o método vira um fim-em-si-mesmo, é porque a Palavra já virou meio de vida, não a encarnação da vida, no meio das coisas.
5. Jesus andava e levava em Si a Palavra e o meio: Ele mesmo.
6. Os apóstolos não se preocupavam com métodos como métodos, mas apenas como meios circunstanciais e momentâneos. Paulo diz: “Fiz-me de tudo para com todos, a fim de salvar alguns”. E, para ele, o meio era a encarnação: aos judeus, como judeus; aos gregos, como grego...tudo, para com todos...mudava conforme a esquina, não conforme a década, ou a moda. Não é mole...é duro mesmo. Mas só é duro para quem não tem o molejo da Graça e da Vida. Para quem tem, é simples como respirar.
7. A fixação nos modelos e métodos apenas denuncia duas coisas: a falta de conteúdo (Palavra) e a cobiça de poder (Crescimento).
8. Nem tudo o que tá certo, dá certo. E nem tudo o que dá certo, tá certo. Se o critério fosse esse, teríamos que dizer: Viva o Islã!
9. A Igreja está no mundo para crescer também em número, mas não à qualquer preço, muitos menos como sacrifício da Palavra—que é o que sempre acontece! Tudo isto te darei se prostrado me adorares, não procede da boca de Deus. Também não vale transformar pedras em pães e nem pular do Pináculo do Templo.
10. Estou na “pista” há algumas décadas e, pessoalmente, já discuti esse assunto milhares de vezes. Há vários livros meus sobre o tema. Continuo pensando igual: quem tem a Palavra, lida com os meios como simples meios, mas não oferece pacotes e, muito menos, procura um pacote. A criação de pacotes, sacraliza os meios e corrompe a Palavra, que fica subordinada aos meios.
Assim, respondo:
1. O meio só tem hoje tanta importância para quem a Palavra virou um meio de vida.
2. A ênfase no crescimento é uma mentira que esconde a sede de Poder e de Aparecer. Se a questão é espalhar o Evangelho, por que, então não se vai por todo o mundo e se o prega a toda criatura? No Brasil—como na maior parte do mundo—, o crescimento da “igreja” é apenas um concurso de quem tem “um maior”. Coisa de menino. Quem quer ver a gloria de Jesus faz como Paulo em Romanos 16: “Não fui ainda aí, ó romanos, porque já tem muita gente aí...tenho me esforçado para não perder tempo...vou passar por aí indo para a Espanha”.
3. O que estamos assistindo não é novo, no meio evangélico se tornou apenas mais feio. Mas é tão velho quanto Roma e Constantino. É o mesmo espírito imperial de poder que continua a corromper a “igreja”, que mesmo sendo evangélica, continua católica de nascimento e alma: Constantino é constantemente o contínuo continuador da continuação do contínuo constantinianismo: o poder do poder, prevalecendo sobre o poder da Palavra.
4. Sem medo de errar: quem quiser ser do Evangelho, pregue a Palavra da Graça e deixe o Espírito dar a ela o tamanho que ela tem, e que não se pode medir com estatísticas, mas pela manifestação de graça e vida.
5. O exemplo brasileiro mais puro—não perfeito—do que digo, é a Congregação Cristã do Brasil. Ninguém sabe dela. Mas é maior que a maioria. Há métodos? Há marketings? Não! Há Palavra. Há honra ao Espírito. Há a certeza de que o corpo efetua o seu próprio crescimento, conforme Paulo.
6. O que assistimos hoje é uma “igreja” no CTI e que está feliz com a modernidade das máquinas e tubos que a mantêm artificialmente viva. Os atuais vendedores de método, são fabricantes de material hospitalar e que conseguem fazer o paciente se sentir bem por estar todo ligado nos aparelhos, sentindo que à todo tempo sai uma máquina velha e entra outra mais nova, mas o paciente nunca recebe alta.
7. De minha parte, digo: ME TIRA O TUBO!
Beijão,
Caio
Destaques
"...Enquanto ensinarmos que o mundo é um lugar a ser evitado, que as mazelas humanas são fruto da ausência de Deus, que Deus não ouve os pecadores, que só a igreja evangélica é que detém os "diretos autorais" da salvação, que ser forte e inabalável é sinônimo de fé e que ser pecador é ser inimigo de Deus então ainda não entendemos o plano da salvação e o evangelho de cristo rebaixado apenas á mais uma religião...."
segunda-feira, 5 de março de 2012
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