Roubados e agredidos no Abala São Paulo 2012
POR: ESTRANGEIRA
Tumulto, roubo, violência. Não, não estou falando da apuração das escolas de samba de São Paulo. Estou falando, pasmem, do que ocorreu hoje cedo no evento gospel, capitaneado pela Igreja Comunhão Plena (do Ap. Sergio Lopes, aquele mesmo que “converteu” o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab – vide Youtube), o chamado Abala São Paulo.
Antes de mais nada, o que é o Abala São Paulo? Segundo o site, é “o maior evento pentecostal do Brasil”. Só que, coincidentemente, todos os eventos gospel pentecostais são os “maiores” do Brasil. Acho que, a título de estatística, esses eventos todos têm o mesmo número de participantes, e por isso todos empatam em primeiro lugar no quesito “maior”. Mas enfim, essa edição começou dia 18 de fevereiro e termina hoje, e por lá desfilaram uma série de pastores, apóstolos, levitas e afins.
No ano passado, um grupo foi a esse evento e foi ameaçado pelos seguranças. Num dia, inclusive, o Marcos estava com sua filha de dez anos, e para não apanhar ou ver sua filhinha apanhando, foi embora. Isso por si só denota o “amor cristão” que impera no local.
Comovidos com os relatos desse grupo, desta vez nós resolvemos ir lá também. Compareceram o Laudinei, do blog Exemplo Bereano, o Zé Luiz (remanescente do grupo que esteve lá no ano passado), o Paulo Siqueira (blog As Pedras Clamam) e esta que vos escreve. Levamos duas faixas: a básica do Voltemos ao Evangelho Puro e Simples, e outra. Levamos também um panfleto que explica resumidamente o porquê de estarmos ali. Enquanto o Nei e o Zé Luiz seguravam a faixa, o Paulo ficou com os panfletos e eu, com a câmera. Filmei algumas coisas, e devo colocar no ar nos próximos dias.
A princípio, uma pequena movimentação na frente da ExpoBarraFunda, local do evento. Instantes depois, um amontoado de seguranças. Depois, uns pastores também. Depois, dois seguranças atravessaram a rua e se colocaram estrategicamente ao nosso lado, porém com uma pequena distância. Depois, recebemos a visita do “ungido do Senhor”, conforme ouvi depois: era um apóstolo da denominação, com carteira de perito judicial “coincidentemente” bem à mostra, no peito, e que veio, com seu séquito, nos inquirir do porquê de estarmos ali. Após uma conversação “calorosa”, se retiraram, mas continuaram na frente do local, creio que para nos intimidar de alguma forma.
Aqui fica uma questão: por que o tal apóstolo veio falar conosco com a carteira de perito judicial exposta no peito? Logo percebemos o porquê, pelo tom intimidador. A carteira provavelmente era mais uma forma de intimidação. O que nos entristece é que o tal apóstolo, com a sua “carteirada”, nos subestimou, acreditando que aquilo seria suficiente para nos amendrontar. Logo, o Paulo descreveu de forma enfática que estávamos ali assegurados pela Constituição Brasileira, que nos garante liberdade de expressão e religiosa.
Algumas pessoas, após ler a faixa, se aproximavam para perguntar o que aquilo significava, o que nos dava a chance de explicar o movimento e de oferecer um panfleto. Porém, quase sempre vinha um “pastor” ou alguém a mando dele para lembrar o(a) fiel de que ele(a) tinha que entrar logo. Eu nunca tinha visto isso, eles não deixavam as pessoas falarem conosco muito tempo. Depois soubemos, por algumas pessoas, que lá dentro estavam nos denegrindo, inclusive alertando os jovens de que deveríamos ir embora, pois temiam pela nossa segurança (ameaça velada). Esses jovens, porém, não temeram e nos ouviram por quase trinta minutos, mas claro, foram de forma veemente chamados para dentro.
Tempo vai, tempo vem, trocamos as posições. Eu e o Paulo assumimos a faixa para os meninos descansarem. O clima era meio tenso, pois continuávamos cercados por seguranças e as pessoas vinham falar conosco com receio. Enquanto os rapazes conversavam com um senhor da Assembléia de Deus do Belém, um rapaz alto e forte com camiseta listrada horizontalmente em azul, preto e branco se aproximou deles, visivelmente transtornado. Eu não vi muita coisa, apenas senti um baque, pois o rapaz arrancou a faixa da mão do Paulo e a tirou de mim também, e saiu. Depois soube que ele chegou injuriando, deu um chute na faixa e a arrancou.
Não pensei duas vezes: fui atrás, pedindo educadamente para ele devolver a faixa, que aquilo era roubo, blablabla. Só sei que ele se virou para mim e fez menção de me dar uma “faixada” (lembrando que a faixa possuía 2 grossas varetas de madeira). Então o Paulo tentou me proteger, e passou a ser o alvo do rapaz de camiseta listrada. Então tentei defender o Paulo, e foi quando fui agarrada no braço, provável hora do hematoma, do qual só tomei ciência por causa dos policiais que nos atenderam. O Nei e o Zé Luiz tentaram ajudar o tempo todo, não estávamos ali para brigar com ninguém. Então surgiu um rapaz de camisa branca (enquanto o de camisa listrada fugia para dentro do evento com a faixa roubada), e este passou a discutir com o Paulo, chegando a segurá-lo pela gola da camiseta e erguê-lo no ar (a hora em que rasgou sua camiseta). Tentei, então, me colocar entre os dois para proteger o Paulo, e nessa hora providencialmente chegou uma viatura, e o rapaz de camisa branca também fugiu para dentro do evento. Os policiais vieram em nosso socorro, e todos nós, cada um a sua maneira, falou as verdades sobre as atitudes que vivenciamos (esses são os frutos do “espírito”, esse é o cristianismo que se prega naquele lugar, etc).
Com a chegada dos policiais, fiquei na parte de fora, entregando os panfletos, enquanto o Paulo, o Nei e o Zé Luiz subiram e foram falar com os pastores, inclusive o tal “apóstolo perito judicial”. Queríamos a faixa de volta, e queríamos que entregassem os agressores. Como é óbvio, ninguém tinha visto nada (embora na hora da confusão estivesse cheio de gente lá fora), ninguém viu ninguém entrar, ninguém conhecia os rapazes (embora um deles, o de camisa branca, tenha ficado o tempo todo entre os que nos intimidavam e até faziam piadas na frente do local do evento). Como o Nei bem lembrou, crente não mente, então…
Enfim, o final disso tudo foi uma tarde no PS da Lapa, onde foram atestadas as agressões, e onde o Paulo teve que tomar soro com insulina, pois sua glicemia foi a 600. Depois, todos os quatro para o 23 DP, onde fizemos o Boletim de Ocorrência.
Algumas coisas interessantes: os policiais que nos atenderam, apesar de não serem evangélicos, mostraram-se muito mais cristãos que os que assim se diziam naquele lugar. Um deles, no final, me disse: “quer saber? Eu concordo é com vocês!”. E no PS, as enfermeiras que nos atenderam na triagem ficaram horrorizadas com o que aconteceu, pois elas também são evangélicas e não entendem como uma simples frase poderia causar tanta selvageria.
E esse continua sendo o mistério. O que a frase VOLTEMOS AO EVANGELHO PURO E SIMPLES, O $HOW TEM QUE PARAR! tem, que provoca reações de ódio naqueles que dizem amar a Palavra de Deus?
O senhor da Assembléia de Deus do Belém talvez tenha nos dado uma pista. Segundo ele, cada pregador que falava pedia ofertas. Ou seja, o negócio apelava para o financeiro mesmo! Isso fora as inverdades, comprovadas pelos que “nada viram” sobre o ocorrido.
Conversamos com muitas pessoas, que pediram para não serem filmadas, por medo de retaliação da igreja patrocinadora do evento. Após sofrermos a agressão, enfim entendemos essa prudência das pessoas. Porém, tudo isso não irá nos amendrontar na luta pela volta da Igreja ao Evangelho de Jesus Cristo, que nada tem das invencionices humanas que têm sido pregadas em muitos templos. Sem sombra de dúvidas, continuaremos nossa luta pelo Evangelho puro e simples. Tememos pelas nossas vidas, pois provavelmente daqui a algum tempo não seremos nós a contar essas histórias, porém tememos muito mais ao Deus Todo-Poderoso, pois a Palavra diz que aquele que perder a sua vida, a achará. Vivemos no firme propósito de sermos achados por Deus como bem-aventurados.
Mas em tudo isso, sabe o que mais dói?
É que o Apóstolo todo-poderoso da denominação deve ter dito, após saber do ocorrido: