Um cara com um paletó amarelo surrado e amarrotado que andava de “bicicreta” barra forte, tinha pelo menos 5 filhos e mal sabia a diferença entre a mão direita e a mão esquerda. Com apenas 2 dentes na boca ele ia pra igreja pra dar “grória” a Deus.
Este era o estereótipo de nós crentes há uns anos atrás.
As músicas do Falcão eram uma bela sinfonia perto das nossas. Éramos bregas ao extremo.
Dizer que era crente era quase que assinar um atestado de ignorância.
Era em meio a este contexto que tivemos a 1ª marcha para Jesus. Eu estava lá.
Um povo ainda meio tímido,mas, com o coração fervendo por Deus. Não importava se a marcha iria ser na Av. Paulista ou numa viela beirando a linha do trem pra nós só importava uma coisa:
Mostrar para o mundo que nós não tínhamos vergonha de ser cristãos, apesar de tudo.
Queríamos mostrar que nossas músicas evoluíram e Falcão que nos desculpasse mas agora tínhamos RESGATE, KATSBARNEA, OFICINA G3, FRUTO SAGRADO e CMF (Christian Metal Force) iniciando suas atividades com muita qualidade. Já não achávamos mais que o sexo era só para reprodução e com estudo tínhamos empregos melhores que nos possibilitavam adquirir algo além da “bicicreta”.
Importamos a palavra “GOSPEL” para nosso dicionário para distinguir essa nova geração de crentes e ficamos mais chiques.
Isso tudo iniciado e impulsionado por um casal simples, abençoado e visionário. O casal Hernandes. Quando ainda eram só a pastora Sônia e o Pr Estevam. Nada de títulos muito especiais, afinal de contas, não precisávamos de títulos, só ser aceitos!
Junto com eles um grupo de pessoas que fizeram história contribuindo direta ou indiretamente para nossa ascensão: Luciano Manga, Brother Simion, Zé Bruno, Adhemar de Campos, Genézio de Souza, Asaph Borba, Jorge Camargo, Carlinhos Félix, Atos II, TROAD, Bispa Lenice, Maurílio Santos, Priscila Angel,entre outros.
Todos cantavam e adoravam porque queriam dedicar o seu dom a Deus. Não existiam cachês altíssimos, camarins sofisticados ou seguranças particulares. A “coisa” era simples.
Bom, somente nesse resumo histórico dá pra perceber que as coisas já não são mais bem assim. A inflação para os cachês foi nas alturas, os camarins são de acordo com as exigências dos, agora, astros da música gospel e um novo ramo de emprego foi criado: Os seguranças-gospel.
Voltando a Marcha, ela foi se modificando aos poucos.Perdendo sua essência. O comércio tomou conta dos bastidores e do percurso, num determinado ano Paulo Maluf subiu ao palco e se atreveu a dizer: “Paz do Senhor meus amados irmãos”, noutro ano um outro político ladrão subiu ao palco e deu Glória a Deus. Os vendilhões do templo começaram a aparecer.
O povo passou a ser usado como massa de manobra política. Não queríamos mais apenas marchar agora queríamos poder. Queríamos eleger nossos deputados, senadores, vereadores, etc.. (hoje queremos mostrar que nossa marcha é superior á marcha gay – Isso se chama porfia)
Resumindo a história hoje a marcha está centralizada no dinheiro, no evangelho da prosperidade, no poder, na fama, na porfia e no determinismo irresponsável.
E enquanto essas forem as engrenagens que movem a marcha eu serei radicalmente contra.
Fico me perguntando: Onde está o tempo para palavra? Só há espaço para entretenimento. Eles são pródigos no determinismo irresponsável.
Determinam e Deus que se vire pra cumprir. Seus atos proféticos não mudam uma vírgula no curso da história. Tudo é muito subjetivo.
Veja. Eles determinam que a cidade não vai mais ser a mesma mas a cidade está cada vez pior, cresce a violência, crescem os roubos, o tráfico, etc...
A cidade já era pra ser quase o céu se realmente isso funcionasse desde a primeira marcha.
Determinam a cura das pessoas que estão no hospital, mas muitas não saem vivas de lá.
Horas depois do fim da marcha, na mesma avenida onde passaram os santos trios-elétricos e se determinaram tantas coisas, os acidentes voltam a acontecer, as prostitutas reassumem seus postos e os traficantes chegam com nova carga. Não há mudança.
Mas isso é um reflexo de como anda o evangelho no Brasil. Nas igrejas acontece a mesma coisa, o mesmo determinismo e a “indulgência gospel” que vende as benção por dízimos e ofertas ou as garante por meio de campanhas inquebráveis. Não digo que as pessoas fazem isso por maldade, mas, numa boa intenção, fazem por ter aprendido isso no decorrer da história e de pessoas mais “importantes ” e influentes que elas, mas, que estavam igualmente erradas. Isso passa de “pai” para “filho” espiritual. É como na seguinte história:
“Uma jovem recém casada foi preparar um peixe assado para o marido e sem saber direito o que fazer ligou pra mãe que disse a ela: - Filha você tem que cortar a cabeça e o rabo do peixe pra ficar bom. Ela pensou e disse:
-Porque? A mãe respondeu:
- Sabe que eu não sei. Pergunta pra vó ela que me ensinou assim quando eu tinha sua idade.
Então a jovem vai e pergunta pra vó:
- Vó porque tenho que cortar a cabeça e o rabo peixe pra ele ficar bom? A vó respondeu:
- Não sei querida, isso aprendi com a minha mãe. Liga pra bisa e pergunta pra ela.
A menina correu pegou o telefone e foi matar a curiosidade perguntando pra bisa. Era sua última esperança.
- Bisa, será que a senhora poderia me responder porque tenho que cortar a cabeça e o rabo do peixe pra poder assar? Já perguntei pra minha mãe e pra minha vó e elas não souberam me responder.
A velhinha com voz tremula disse:
- Ah minha filha, é porque antigamente nós não tínhamos panelas grandes e então era necessário cortar a cabeça e o rabo do peixe pra poder caber na panela, mas já há muito tempo existem panelas grandes, não precisa disso mais não. Faz com a cabeça e com o rabo mesmo. ”
Isso acontece com o evangelho misturado de hoje, um passa pro outro e no decorrer dos anos se torna verdade absoluta.
Creio da interseção e no poder da oração do justo, mas nunca no determinismo, antes, na soberania de Deus.
Seria infinitamente mais útil pra sociedade uma marcha que ao invés de determinar a cura nos hospitais incentivasse as 3 milhões de pessoas que estivessem lá a doar sangue, algo do tipo.
“Irmãos. Aqui ao lado do palco temos 2 postos de coleta de sangue. Você que tem condições físicas passe ali e doe sangue, vamos ajudar a salvar várias vidas aqui nos hospitais da região. Hoje mesmo eles receberão esse sangue doado pelo povo de Deus”.
Ao invés de orarmos para que nossos templos fiquem cada dia mais
“Irmãos vamos mostrar um vídeo aqui do Congo um país assolado pela fome, miséria e descaso. Nós somos um país abençoado e com fartura e aqui está o irmão fulano de tal e seu grupo, eles estão dispostos a ir para o Congo sofrer perseguições e doenças já estudaram e falam a língua local só esta faltando o recurso financeiro. Eu gostaria de estimular a cada uma das 3 milhões de pessoas que estão aqui a doar apenas 50 centavos para mantê-los por alguns anos lá. Creio que com esta oferta poderemos levar o evangelho para povos não alcançados.”
Ao invés de chamarmos a existência um carro ou uma casa nova deveríamos ter algo assim alguns dias antes da marcha:
“Dia 3 de junho , marcha para Jesus. Venham participar, mas não se esqueçam – A fé sem obrar é morta - queremos abençoar os moradores de rua e os assolados pelo capitalismo. Traga um agasalho ou um cobertor e um quilo de alimento não perecível. Não custa nada e se todos trouxerem teremos mais de 3 toneladas de alimentos e agasalhos e cobertores suficientes para distribuir para moradores de rua do Estado de São Paulo inteiro ”
ISSO É CRISTIANISMO
Pergunte para os moradores de rua da região da marcha se o evento melhorou alguma coisa na vida deles! Absolutamente!
E o espaço para palavra?
Na declaração de Cambridge sobre uma das “cinco solas” do pilar do protestantismo “Solas Scripturas” ou seja “Somente as Escrituras” diz que a palavra de Deus tem primazia sobre tudo.
Num evento como esse teríamos que dar grande ênfase a palavra de Deus. Porque ela é que traz fé para os não crentes e não a cantoria desenfreada.
O legal seria chamar alguém do nipe de David wilkerson ou Billy Graham para ministrar pelo menos umas 2 horas sobre o pecado, a justiça e o juízo. Ai sim teríamos vidas transformadas através do evento.
Mas a única palavra que temos são dos radialistas ou dos políticos.
Por falar política. Nós queremos mostrar ao mundo que somos unidos, mas na prática, o que se faz é o inverso.
Você já se perguntou por que os candidatos a presidência da república José Serra e Dilma já estão com amplo apoio da igreja evangélica enquanto a candidata Marina Silva, que é da Assembléia de Deus, ainda não conseguiu apoio de NENHUMA igreja, nem das Assembléias de Deus que é a sua casa? Isso é uma palhaçada.
Quanto a música só tenho algumas perguntas:
Porque o resgate que esteve desde o inicio não se apresentou, será porque o Zé Bruno e sua família se desligaram da renascer? Segundo o Estevam era porque eles queriam dar oportunidade pra grupos desconhecidos, mas ai eu pergunto: O que aquele monte de grupos conhecidos estavam fazendo lá então?
Porque o Brother Simion, que também estava desde o inicio e que estava num trio elétrico, não se apresentou? Será que era perigoso ele querer cantar a música SEMIDEUS?
Porque João Alexandre não foi convidado. Será que era perigoso ele cantar “Tudo é vaidade” ou pior “É proibido Pensar”?
Na verdade o que importa é a modinha, o que dá dinheiro no momento.
1º Coríntios: 1:23 - mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios.
Mas hoje o evangelho deixou de ser loucura, é muito parecido com o mundo, muito comum. E se alguém prega o correto é considerado louco. Senti isso na pele.
Vocês sabiam que a nome “Marcha Para Jesus” foi patenteada? Agora tem dono: Estevam Hernandes. Ninguém pode usar esse nome, a não ser pra fazer divulgação da própria marcha. Se alguém quiser fazer qualquer evento ou utilizar a frase “Marcha Para Jesus” tem que pagar ou será impedido! Existe cidades onde se cogita mudar o nome do evento pelo fato da patente
Veja essa citação:
"Como tudo no Brasil parece acabar em pizza, samba ou malandragem, eis que a nossa Marcha virou marca patenteada por uma denominação pseudopentecostal. É um desvirtuamento que não ocorre em nenhum outro lugar do mundo", alfineta o bispo Robinson Cavalcanti, da Diocese Anglicana do Recife (PE). "No Brasil, a Marcha tem dono."
Por isso tudo não concordo com a marcha para Jesus atual. Ela é expressiva, porém ineficiente. Tem igrejas com 300 pessoas que são mais úteis para a sociedade e para o reino do que ela.
Mas, no entanto, não sou contra a marcha e no dia em que coisas como as descritas aqui começarem a acontecer então eu enrolarei as faixas de protesto e sem medo de mudança defenderei a marcha para Jesus com unhas e dentes.
Por enquanto ficam só as lembranças e o protesto contra a atual micareta dos crentes!
Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.
Lamentações 3:21